quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Clube do Choro entrevista Zé Barbeiro

Confira abaixo a entrevista que Zé Barbeiro concedeu aos diretores do Clube do Choro, Marcello Laranja e Ademir Soares, nos camarins do Teatro Guarany, em Santos, dia 18 de setembro de 2009.

MARCELLO: Zé, a primeira pergunta que eu queria te fazer: de profissão você é barbeiro e músico. Você exerce as duas profissões ou só é músico...!

ZÉ BARBEIRO: Primeiramente o meu boa noite a todos. A minha profissão foi barbeiro durante trinta anos e eu comecei a exercer, intercaladamente assim, choro, a música em si, a música e a barbearia por volta de 1980, por aí, nos anos 80 e eu parei com a barbearia em 1995, mais ou menos, e de lá pra cá eu exerço só a minha profissão que é só música mesmo.

MARCELLO: E você, mesmo no tempo em que exercia sua profissão de barbeiro, já tocava ou veio aprender depois...?

ZÉ BARBEIRO: Não! Já tocava, a minha formação é popular, veio de uma formação desde a época da Jovem Guarda tocando guitarra, conheci o choro por volta de 1970, o primeiro choro que eu ouvi...se eu ouvi antes não me lembro...mas que me marcou o primeiro choro foi por ocasião da morte do Jacó (do bandolim) em 1969, foi quando o rádio deu, de certa forma, uma nota, tocou um choro ou dois e tal, depois ali também já parou né, mas eu ouvi o choro, eu ouvi inclusive um choro chamado "Tira poeira", gravação de Jacó e eu fiquei abismado com a qualidade da música porque eu tocava guitarra, ié ié ié, e a música jovem por ser bonita que é a minha época e tudo, mas, tecnicamente ela é bem inferior ao choro. Aquilo passou, eu era solista de um conjunto jovem da época, eu era guitarrista, mas tocando música de ié ié ié, né! Então, em 1972 - 1973, mais ou menos, eu conheci o Milton da Silva, um cidadão que toca choro, que era bandolinista e o João Macacão, por acaso, num festival de música em Osasco, conheci os dois e eles estavam no camarim tocando choro. Foi quando eu vi, pela primeira vez, um violão de 7 cordas. Fiquei tão apaixonado pelo "7 cordas" e a maneira de se tocar o choro, que naquela semana mesmo eu já desfiz da guitarra, já saí do grupo e me dediquei...até então eu tinha um violãozinho de 6 cordas...eu afinava a 6a. em dó, que era pra dar aquele bordão né, que o 7 cordas...eu não tinha dinheiro pra comprar um 7 cordas. Mas o tempo foi passando, o tempo foi passando e eu levei um tempo até comprar o meu primeiro violão de 7 cordas...eu devo registrar aqui que o João Macacão me deu todo o apoio do mundo e ele foi o primeiro que eu vi tocar e, realmente, o primeiro que me deu a chance de tocar, me convidando aonde ele tocava né, ele já tocava na noite na época, e ele falou assim: "pô Zé, você tem condições de tocar choro bem, começa a frequentar as rodas de choro e tal..."! E eu fiz. Ele mandou comprar tudo quanto era relacionado a Dino (Horondino Silva)...

MARCELLO: Que sempre foi a maior referência de violão 7 cordas no Brasil...

ZÉ BARBEIRO: De todos os 7 cordas...! Ele me deu inclusive nome de discos da época do vinil e eu procurei e comprei, fui comprando tudo relacionado a Dino eu comprei e fui estudar, ou seja, ficava o dia inteiro na barbearia, eu trabalhava na barbearia e ficava com o violãozinho ali, não tinha cliente eu ficava com o violão e aquelas...tú lembra aquelas vitrolinhas pequenininhas que era duas partes assim né, era vitrolinha de parque, o pessoal ia pro piquenique e tal...! Eu ficava o dia inteiro com aquilo ligado, ao ponto do meu pai encher o saco...meu pai falava assim: "você não enjoa disso, você só ouvi isso, você não enjoa..."!

MARCELLO: Seu pai era músico também...?

ZÉ BARBEIRO: Meu pai tocava acordeon, mas, "male male", assim, um forró...! Ele sempre foi apaixonado por Luiz Gonzaga, até hoje...ele não exerce mais a profissão...meu pai ainda é vivo, graças a Deus, só que tá velhinho, 81 anos, não toca mais acordeon mas ele...não tocava nada, muito pouquinho...ele tocava forró. Mas ele pegava no meu pé, no bom sentido, assim, ele falava: "você não enjoa disso, você só ouve a mesma música sempre, todo o dia a mesma coisa..."! Aí é que tá né, o pessoal as vezes não vê o esforço que o músico faz pra poder aprender, a dedicação pra poder aprender aquilo que ele gosta, enfim...! E daí eu, até então, só estudava mesmo e comecei a frequentar a noite, eu ia...ninguém tinha carro naquela época né, era uma época difícil, ninguém tinha carro, eu pegava o ônibus velho lá e ia pra Pinheiros e, antes do último ônibus, que era por volta da meia noite assim, eu já ia embora, eu via pouco o João Macacão tocar...

MARCELLO: Senão você não chegava em tempo...você perdia a condução...!

ZÉ BARBEIRO: Perdia e tinha que ficar na rua né, até as sete horas da manhã...! Mas todas as vezes que eu ia na cidade, o João sempre deixava eu dar uma canja no violão dele, né! Então aquela música que eu ensaiei mais, tipo "Noites cariocas", "Pedacinhos do céu", "Sofres porque queres", eu ensaiava...

MARCELLO: O repertório clássico do choro...!

ZÉ BARBEIRO: Clássicos do choro! Aí o pessoal tava lá tocando eu falava assim: posso dar uma canja aí...? E o João dava o violão e com isso eu fui me soltando, de uma certa forma, e o pessoal foi me conhecendo né, tinha um bandolinista, o Gentil do bandolim, o bandolim que tocava com o João, o velho Américo que era gente fina, que infelizmente já se foram, mas eles sempre me deram força..."pega o violão, toca aí, toca aí rapaz o violão" e eu até ser tido assim como profissional, demorou...! Demorou, foi tipo em 86! 84 eu já tocava no Clube do Choro mas era aos domingos, na Rua do Choro, em 84 também eu entrei no "Vou Vivendo", senão me falha a memória foi a partir de 84, realmente, que eu ingressei na noite, que aí eu fiquei tocando no "Vou Vivendo" de segunda a segunda, com um time de respeito, que era o Carlos Poyares, Tavinho do cavaquinho, Rui do sax, Dárcio do pandeiro, Wilsinho do bandolim, o Xixa, pôxa era um time de respeito, infelizmente, já se foram todos, só ficamos eu e o Wilsinho.

MARCELLO: Você seguiu, curiosamente, os passos do Evandro, porque você é alagoano, veio pra São Paulo, está fazendo sua carreira em São Paulo, assim como o Evandro veio...o Evandro era paraibano, se não estou enganado, veio para o Rio de Janeiro, do Rio de Janeiro veio pra São Paulo, aqui se fixou, fez a carreira toda e se consagrou como um dos grandes bandolinistas de Sampa. Você conviveu muito com o Evandro, eu presumo...!

ZÉ BARBEIRO: A minha convivência com o Evandro foi pouca...! Eu frequentei muito a Del Vecchio, da qual ele era representante, músico lá né, eu frequentei muito a Del Vecchio, mas, em si, a minha história musical com ele foi mais do "oba-oba", assim, "ô Zé Barbeiro, como vai...", "ô Evandro, tudo bem...", mas nunca tive oportunidade de tocar com ele em nenhum evento. Toquei sim, com ele, em roda de choro feita na Del Vecchio, mas eu poderia dizer pra você, com certeza, que o meu convívio musical com ele foi muito raro, muito pouquinho. Conheci muito ele, mas não tocando.

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